Guia rápido para usar o Tarot em crônicas

O livro Keys to the Supernatural Tarot, publicado pela Onyx Path como um suplemento de Mago: o Despertar oferece vários caminhos e possibilidades para utilizar o baralho de tarot no RPG. Desde a aplicação disso em histórias como um recurso narrativo até a criação de personagens utilizando os arquétipos das cartas. Também oferece a possibilidade de pensar nas cartas como objetos encantados de extremo poder que existem desde Atlântida e que estão perdidas atualmente. Minha intenção aqui é explicar um pouco sobre como funciona e dar uma visão breve sobre cada uma das cartas para que você possa utilizar esse recurso de modo prático na sua crônica. Não é algo voltado apenas para Mago, mas para qualquer cenário de RPG.

Entender o funcionamento das cartas se tornou uma paixão muito forte para mim desde algum tempo atrás. Mas não vou mentir, é algo muito complexo e que exige muita dedicação. Eu não sou nenhuma “expert”, apenas uma amante e entusiasta que coleciona baralhos, mas vamos lá.

O Tarot e a Consulta

O baralho de tarot pode ser visto de formas bem diferentes. Não apenas como uma ferramente para prever o futuro, mas também como uma fonte de autoconhecimento. Além disso, é uma forma de exercitar a criatividade e uma ferramenta para estimular a percepção simbólica através das analogias encontradas nas cartas. A origem é incerta. Já li livros diferentes com visões diferentes a respeito do assunto e nunca consegui chegar numa resposta definitiva, mas o fato é que hoje ele é bem popular e pode ser utilizado como uma fonte de autoconhecimento e até mesmo um recurso terapêutico.

Existem muitas formas de consulta que determinam, por exemplo, as posições e a ordem das cartas na mesa. Cada lugar vai determinar a relação da carta com a questão (a pergunta central) e a relação da carta com as outras que estão ao redor. Uma das mais simples, na minha opinião é o método “The Sun, Moon and Stars Spread“. A maioria das pessoas já tem familiaridade com o processo que consiste em mentalizar uma pergunta, embaralhar as cartas, retirar X cartas do monte e deitá-las sobre a mesa numa formação específica. No caso do método que eu mencionei, serão selecionadas três cartas aleatórias (viradas para baixo, é sempre bom lembrar!) e colocá-las enfileiradas a sua frente.

Depois que você desvirar as três, precisa pensar na relação delas entre si, com a questão e com a posição em que elas saíram.

A primeira, da esquerda para a direita, representa o Sol. Isso quer dizer essa carta vai falar sobre questões externas relativas a manifestação da situação (a pergunta central, lembra?), como o mundo vê essa situação e as ações que a causaram. Além disso também pode representar o presente.

O segundo lugar representa a Lua. Trata de questões internas manifestadas pela situação, como ela o faz se sentir e os efeitos que tem em você como uma pessoa. Ou pode representar o passado.

O terceiro lugar é das Estrelas. É relativo a como você pode fazer a situação funcionar a seu favor. Ou o futuro.

Os Arcanos Maiores

Além de entender as posições das cartas, é preciso entender como elas funcionam. O que elas querem dizer? Cada uma delas tem uma grande profundidade e simbologias muito fortes e particulares. Vale ressaltar novamente que o que eu vou expor aqui são traços muito breves a respeito das cartas, uma leitura fácil para ser utilizada durante o jogo. Bem, continuando, o baralho contém 78 cartas. Dessas 78, temos 22 arcanos maiores que são mais complexos. As outras 56 cartas, que são como as cartas que nós temos no baralho normal, com números e naipes, são complementares, mas nem por isso, menos importantes. Embora tenha gente que jogue apenas com os arcanos maiores, eu acho todas as cartas essenciais para uma leitura completa.

0 – O Tolo  – Essa carta fala sobre potencial, sobre alguém que está a um passo do abismo, mil possibilidades a frente. Caos. Fala sobre jornada, sobre ser um viajante, sobre se arriscar. Liberdade, novos começos, ir em frente.

[OBS.: especula-se que cada carta represente um passo em uma jornada, uma busca de autoconhecimento e conhecimento a respeito do mundo. As cartas são numeradas e tem uma ordem e um lugar específico nessa jornada, menos o Tolo. Ninguém sabe exatamente em que lugar ele está. Se ele pertence ao início da jornada ao ao final dela. Como eu gosto de pensar nessa busca como um ciclo, eu diria que ele é o elo que conecta começo E final.]

I – O Mago – A figura do mago é a figura de um estudioso. Ele estuda transformações. É sobre ficar instigado com grandes mudanças, saber como manipular e controlar uma situação, intenção, energia e vontade. O mundo espiritual e o mundano refletindo um ao outro.

II – A sacerdotisa – Uma das cartas mais complicadas, na minha humilde opinião. A sacerdotisa é misteriosa, representa o silencio para encontrar as respostas, intuição, introspecção, conhecer a si mesmo. As vezes observar e aprender é a melhor forma de ação.

III – A Imperatriz – Criatividade e criação. Fertilidade, amor e sensualidade.

IV – O Imperador – Ter poder e saber como usar, ou seja, responsabilidade. Estar numa posição de liderança e autoridade. Pode representar alguém em uma posição mais elevada, pode representar estrutura e ordem (olha o God Machine aí :P). Também pode ser poder, coragem e ambição.

V – O Hierofante – Organizações e instituições, autoridade espiritual, memória. A figura do hierofante pode representar a história e como aprender com o passado ou revelações do sagrado.

VI – Os Amantes – Amor, obviamente. Busca por união com outra pessoa ou com o Divino, paixão, opositores se unindo.

VII – A Carruagem – Uma carta poderosa, pense na carruagem como aquela que não para, que passa por cima dos obstáculos. Ela significa progresso, movimento, intenção transformada em ação.

VIII – A Força – A força significa, em certa instancia, domar o seu lado animal, reconhecer suas paixões e libido. Pode representar uma relação simbiótica entre duas pessoas muito diferentes.

IX – O Eremita – Sabedoria e solidão, ou sabedoria na solidão, pois o eremita é uma figura que viaja sozinho e que aprecia isso. Pode representar idade e experiência e também pode ser sobre ajudar as outras pessoas a ver, iluminando seu caminho.

X – A Roda da Fortuna – Charadas e apostas, altos e baixos. A roda gira e você nunca sabe qual será o resultado. Ela fala sobre mudanças, ciclos, o que vai e volta, destino e incerteza.

XI – Justiça – Essa carta fala de equilíbrio, causa e efeito, a balança não pende nem para um lado nem para o outro, mas ela faz uma manutenção do centro. Moralidade, lei e ordem.

XI – O Enforcado – Sacrifício, rendição, deixar as coisas para trás e desistir, ver as coisas de um angulo diferente, serenidade.

XIII – A Morte – Transição e transformação. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é uma carta agourenta. Pelo contrário, ela significa deixar coisas desnecessárias para trás. A renovação vem depois da destruição.

XIV – A Temperança – Moderação, evitar excessos, seguir o caminho do meio.

XV – O Diabo – Excesso e tentação, o diabo é uma figura luxuriosa que representa desejo e laços entre as pessoas. Também pode representar demônios interiores, decadência e vício, além de egocentrismo e luxúria pela vida.

XVI – A Torre – Essa carta me dá calafrios. A torre representa destruição e devastação. Catástrofe. Acordar doloroso, hubris, revelação através da dor (magos, fiquem ligados).

XVII – A Estrela – Cura, renovação, rejuvenescimento, paz, harmonia e espiritualidade. A estrela é uma carta de esperança e sorte.

XVIII – A Lua – A luz lança sombras que escondem coisas. Ela é incerta, portanto simboliza ilusões, segredos e mistérios. Também pode ser associada com fluxos, verdades ocultas ou medo das sombras.

XIX – O Sol – Verdade, iluminação e revelação. Representa o acordar, (de novo, magos!) otimismo e celebração. Simboliza tempos de fortuna e prosperidade.

XX – O Julgamento – Escutar o chamado de um propósito, renascimento, a fenix que ressurge das cinzas, chamado espiritual.

XXI – O Mundo – Finais dando passagem para novos começos, ciclos, jornadas sem fim, sinestesia, aprender os ritmos da sua vida, celebrar a vida, possuir tudo o que você precisa.

Os Arcanos Menores

Não se preocupem, eu não vou revisar cada uma das 56 cartas aqui. Ao invés disso, vou falar sobre os números e os naipes. Cada naipe está conectado a um elemento e, por conseguinte, um significado.

Ouro está associado a Terra. Representa prosperidade, família e dever, além do mundo material, cotidiano e o corpo.

Bastos está ligado ao fogo. Representa, portanto, o elemento do desejo, da paixão, ambição, criatividade e sexualidade.

Espadas está conectado ao ar. Representa o mundo da linguagem, da comunicação.

Copas está associado a água. Representa nossas emoções e sentimentos e também aquilo que nos conecta a outras pessoas. A água é o elemento dos relacionamentos românticos e sociais.

E finalmente, temos a simbologia ligada aos números e as cartas de corte, ou seja, o rei, a rainha, o valete e o cavaleiro.

  • 1 – começos, ímpeto, foco, origem pura.
  • 2 – Dualidade, balando, oposição, relações.
  • 3 – Manifestação, criatividade, comunicação.
  • 4 – Alicerce, força, estrutura e ordem.
  • 5 – Conflito, luta, agressão.
  • 6 – Harmonia, luz, síntese.
  • 7 – Fluxo, incerteza,ilusão.
  • 8 – Força, limites, armadilhas, estagnação.
  • 9 – Conclusão, realização, conquista, autoconsciência.
  • 10 – Fins, retornos, renovação, exageros.
  • Cavaleiros – são figuras fortes e poderosas.
  • Rainhas – são figuras atrativas e enérgicas que representam a capacidade feminina de concepção.
  • Reis – a representação do homem, o modelo do herói.
  • Valetes – são figuras viajantes, mensageiros ou ajudantes.

Espero que o textão tenha sido útil e que inspire muitas ideias de narrativas por aí. Um abraço meu e da Vanessa Ives para vocês.

Saúde à todos *ergue a taça de sangue*

One Reply to “Guia rápido para usar o Tarot em crônicas”

  1. Nossa e como foi útil
    eu estava justamente a procura de uma forma de mesclar meu conhecimento em taroht com minhas narrativas só ainda não sabia como fazer
    valeu pela dica

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