Aqui é o método que eu uso pra criar one-shots. Não é um método obrigatório, muito menos oficial. É similar ao método que eu estou utilizando pra criar a minha crônica de Réquiem, mas tem algumas diferenças fundamentais. Também é uma opção de atalho pras pessoas que forem narrar no CofD day dias 31 de outubro e 1 de novembro.
Primeiro passo: TRAMA Clímax
Na minha opinião, uma boa one shot precisa de uma cena clímax. O momento onde tudo se resolve. Pode ser um combate enorme, pode ser a revelação de quem é o assassino misterioso, pode até ser impedir ou executar um determinado assassinato.
Na crônica a gente precisa de algo presente toda sessão de jogo pra criar a sessação de coesão ao longo da crônica. Na one shot eu proponho que todas as cenas sejam entendidas como um caminho para o clímax. Então o que eu quero aqui é que cada cena tenha um elemento que informe quem está jogando sobre o clímax. Ou seja, são cenas que precisam da presença de um personagem que estará no clímax, um item, o mapa da cena final, a relação entre os personagens presentes da cena final…
O mais interessante é que crônicas se comportam como séries, albuns musicais e livros. Onde a história pode por vezes se separar do eixo central para contar mais detalhes da trama e desenvolver os personagens. A one shot é um filme ou um clip musical, quase tudo em toda cena indica o desenvolvimento da one shot.
Eu escolho como cena final pra minha one shot um embate entre manifestantes e força policial. Veja que ao escolher o clímax eu não necessariamente decido detalhes sobre ele. O que os manifestantes estão promovendo? Do outro lado é uma força policial, uma milícia ou outro grupo de manifestantes? Existe um terceiro grupo que vai se meter nessa bagunça? Esse embate é pra acontecer ou é pros jogadores impedirem? Eu ainda não sei as respostas de nenhuma dessas perguntas. Algumas eu vou descobrir enquanto eu monto a one shot, outras eu só vou descobrir quando eu narrar.
Segundo passo: A escolha da Dança Chamando alguém pra dançar
Com uma trama, eu tenho mais elementos presentes pra informar os meus temas. Um cena clímax “embate entre manifestantes e força policial” me informa bem pouco sobre temas. Agitação civil é coisa que pode ser explorada com o movimento cartiano, os mestres do ferro, pelo menos duas ordens de despertos, krewe/grêmio furioso, corte estival e tudo mais que tem em Chronicle of Darkness. Mais de uma era se passa em meio a agitações civis entre cenários oficiais de CofD.
A solução pra isso é adicionar algo que eu ainda não tinha discutido na criação de crônicas, intenção. Em crônicas eu gosto de apenas explorar cenários e temas, deixando a minha intenção a critério de como quem joga interpreta os temas explorados. Porém em one shots quem joga tem menos tempo de exposição a temas, estilo de ambientação, personagens etc. Se torna proveitoso que a proposta de mesa seja mais clara e se possível sucinta.
A minha proposta clara pra one shot é “jogo para iniciantes”. Só nessa brincadeira, eu já sei que eu não quero lidar com as conspirações de múltiplas camadas dos despertos e de vampiros. Eu terei pouco tempo para expor múltiplos planos metafísicos dos perdidos, devoradores de pecados e destituídos. Então me vem um jogo, Deviant: The Renegades. Os renegados tem como premissa personagens perseguidos desgarrados da sociedade. Caçados por seus poderes. Renegados tem uma proposta de ser um jogo mais fácil pra iniciante pegarem, ouso dizer mais fácil até que jogos de mortais. Agora ficou fácil.
Terceiro passo: O espírito da coisa Socar Nazistas
Aqui eu no máximo recomendo um documentário sobre o assunto, um filme, ou uma música. Você não quer uma hiostória com muitos subtemas como inspiração pra estética da sua ambientação.
No caso, eu estou roubando. Pq nós estamos numa situação global de agitação civil. Eu já estou dentro dessa mentalidade. Então eu pego alguns vídeos e relatos feitos por militantes de vidas negras importam. Só pra eu ter alguma noção maior sobre a dinâmica dos protestos e dos conflitos possíveis.
Quarto passo: Guia para a Noite Seguindo a Receita
Como eu quero todas as cenas informando o clímax, as cenas e seus elementos são respostas ao clímax. Respostas as perguntas quem, quando, onde.
- Quem está presente no “embate entre manifestantes e força policial”?
Em outras oneshots, aqui você colocaria personagens de quem joga, a vítima de assassinato, antagonistas e personagens neutros que poderiam ser recrutados. Porém Deviant é um jogo que facilita isso. O jogo tem conspirações, grupos que caçam renegados, e touchstones, personagens mortais que o renegado deseja proteger ou matar. Isso vai preencher boa parte do meu elenco. Membros da conspiração como antagonistas nas cenas, e touchstones como aliados, potenciais aliados ou vítimas. Eu ainda deixo em aberto adicionar um Devotado, um deviant que trabalha para um conspiração, como ameaça extra. Eu vou pingar essas personagens ao longo das cenas. - Quando ocorreu o “embate entre manifestantes e força policial”?
O número de cenas que eu vou narrar antes do clímax. Cada cena deve adicionar um risco, pista ou vantagem a ser usada no clímax final. Eu escolhi um clímax particularmente simples, eu vou precisar de motivos quem joga se importar com dois grupos. Ou seja vou precisar de um momento de introdução a one shot, um momento para abordar os manifestantes civis, um momento para abordar a polícia, o clímax e um descrição sobre as consequências das ações de quem jogou. Quatro cenas mais o desfecho. - Onde ocorreu o meu “embate entre manifestantes e força policial”?
Agora é onde eu ponho as quatro cenas necessárias. Temos uma cena introdutória num masmorra de uma conspiração onde as personagens estão presas, a masmorra moderna fica no ponto da rua onde os dois grupos de mortais irão se encontrar, aqui você pode aludir a presença de uma ou duas touchstones. Uma cena na rua ao entardecer para lidar com o grupo de civis. Um cena ao entardecer para lidar com o grupo policial. Veja que o grupo de quem joga pode escolher se separar para lidar com a polícia e os civis separadamente ao mesmo tempo. É recomendável introduzir as touchstones e outras personagens relevantes nessas duas cenas.O embate é de noite no meio da rua na frente do prédio de onde personagens de quem joga saíram. Por fim o desfecho com as personagens assistindo o jornal da noite ou ouvindo o rádio relatando as consequências de suas ações. Veja que cada cena lida com cada elemento do clímax, uma cena de contextualização, cenas para lidar com os elementos que participarão do clímax final, o clímax e uma descrição de desfecho.
A graça do RPG com one shot é quem joga e quem narra apresentarem e descobrirem como e por quê o clímax acontece.
Quinto passo: Leitura complementar Elenco
Agora vem um problema clássico de one shot em CofD, montar ficha de quem vai jogar. O sistema de CofD, storytelling, é um sistema que aborda detalhes bem específicos de personagem. Uma personagem que luta bem com as mãos nuas em CofD não tem apenas pontos na perícia briga. Também tem o estilo no qual foi treinada, suas manobras favoritas etc. Tudo isso são elementos de ficha, que podem tornar o trabalho de quem narra uma one shot algo extremamente exaustivo. Pois em crônicas, quem joga cria suas personagens, personagens de quem narra podem ser introduzidas e definidas entre as sessões. Numa one shot tudo tem que estar pronto de cara.
Aqui eu roubo um truque de outros RPGs e procuro fichas prontas para quem vai jogar. O livro de Deviant: The Renegades tem exemplos de personagens, as vezes mais poderosos que o que eu quero, mas que eu posso facilmente customizar e reduzir poder pra por na minha one shot.
Algo similar existe para personagens mortais, o livro do Chronicle of Darkness core apresenta dúzias de fichas simplificadas prontas de mortais. Essas fichas não costumam ter todas as competências que essas personagens poderiam ter. Então é sempre recomendável que eu julgue cada situação de acordo com o conceito da personagem que está sendo usada. Se for algo que esse conceito de personagem deveria ser capaz de fazer bem, eu uso a paradas de dados mais alta na ficha da personagem. Se for algo que vc considera que está totalmente fora do conceito, eu uso a parada mais baixa de dados. A situação também deve gerar modificadores para as ações dessas personagens a iluminação estranha do entardecer, a má iluminação da noite. O que me leva as cenas em si.
As minhas cenas precisam ser caracterizadas. A cena de introdução é numa masmorra da conspiração, com estranhos equipamentos de laboratório, iluminação precária devido ao corte de luz pela situação de emergência, um equipamento de vigilância codificado que permite quem joga descobrir sobre a movimentação do grupo civil e do grupo policial. Na cena com o grupo civil aplique tilt ambientais que dificultem a movimentação livre das personagens, é uma multidão sob estresse extremo isso vai afetar a sociabilidade delas, sempre existe a possibilidade das pessoas começarem a correr de medo e pisotearem umas as outras. Na cena dos policiais estrutura de comando e máscaras dificultam a identificação de pessoas específicas pelas personagens de quem joga, mas também torna essas personagens de quem jogo particularmente chamativas. A meu esquema aqui é o artigo Nós não começamos o Incêndio, e aplicado as minhas cenas.
Sexto passo: E eu dancei Desafio para você
A one shot usada de exemplo nesse artigo será realizada no CofD day dias 31 de outubro e 1 de novembro. Para quem quiser participar dessa one shot no evento, eu proponho um desafio. Você pode montar a sua personagem renegada e trazer ela pra jogar a minha mesa. Se a sua personagem morrer ou desestabilizar, ela passa a ser minha para eu usar em futuras mesas e artigos. Você pode usar o modelo de criação de personagem inicial e cinco pontos de magnitudes nas suas variações.