Entrevista Exclusiva: Martin Ericsson (White Wolf) para o Cronistas das Trevas!

(The original interview in English is available here)

Os Cronistas das Trevas Br têm a honra de trazer com exclusividade uma entrevista com Martin Ericsson, o Lead Storyteller [Narrador Principal, algo como um “Diretor Criativo”] da White Wolf. Isso mesmo que você leu, temos aqui a primeira entrevista em português do principal responsável pelo desenvolvimento do Mundo das Trevas!

Martin Ericsson, o Tzimisce e Lead Storyteller da White Wolf.

Martin Ericsson, o Tzimisce e Lead Storyteller da White Wolf.

Antes de mais nada, um pouquinho sobre o nosso ilustre entrevistado. Ericsson possui mais de 25 anos de experiência em diversas mídias, como MMOs, séries de TV interativas, LARPs e jogos transmídia. Ericsson também trabalhou como Desenvolvedor de Conteúdo Sênior para o (finado) MMO de Mundo das Trevas da CCP (a antiga detentora da Propriedade Intelectual da White Wolf).

Por último, mas definitivamente não menos importante, ele foi o modelo para o clã Tzimisce na arte dos livros de 20 anos de aniversário de Vampiro: a Máscara publicadas pela Onyx Path. Quem quiser conferir o currículo (impressionante) basta dar um pulo em seu Linkedin.

Finalmente, sem mais delongas, vamos à entrevista!


Martin Ericsson: Primeiro: O que é a White Wolf enquanto uma empresa? O que estamos fazendo agora? Somos uma empresa de licenciamento de storytelling* que opera em todo e qualquer formato de mídia. Nós possuímos e desenvolvemos alguns dos mundos mais maduros e elaborados que existem, os mais notáveis sendo nosso querido Mundo das Trevas e Exalted. Atualmente estamos atualizando o cenário e as regras do Mundo das Trevas para um novo século e suas muitas formas de expressão, incluindo a TV e os jogos de computador.

Criativamente, estamos trabalhando duro no desenvolvimento da metaplot e uma nova cara para o MdT. 12 anos se passaram. Nosso mundo e o mundo das trevas, escondido de nós, mudaram de forma fundamental. Theo Bell e Victoria Ash ainda estão vivos? Qual o papel do Sabá na guerra do Oriente Médio? Onde estão os Garou enquanto as calotas polares derretem? Como os vampiros se escondem entre nós numa era de vigilância onipresente e governos militar-industriais totalitários.

No front dos negócios e projetos, estamos olhando em todas as direções para achar os melhores colaboradores que adorariam criar obras ousadas baseadas nesse Mundo das Trevas contemporâneo. Acima de tudo, não somos uma distribuidora ou desenvolvedora de jogos, somos construtores de mundos e campeões de uma marca, trabalhamos com licenciados que, sob nossa orientação, podem lançar produtos baseados no nosso universo.

Por exemplo, trabalhamos bem de perto com estúdios e distribuidoras de jogos para criar interpretações digitais maduras e profundas do Mundo das Trevas. Garantimos que seus enredos, temas, tons e personagens se enquadrem nos nosso planos malignos para outros produtos e criem uma teia bastante consistente de metaplots que atravessam produtos, mídia e até mesmo linhas de jogos. Nossa empresa irmã, a Paradox Interactive, é uma grande parceira para desenvolver e distribuir jogos digitais, mas não estamos normalmente presos a nenhuma parceria, então, baseado no que um jogo pode precisar, nós nos asseguramos de trabalhar com a desenvolvedora e distribuidora certa. A mesma coisa vale em relação a nossa série de TV em potencial, no qual adoraríamos criá-la com um roteirista/estúdio criativo do caralho e então passar na HBO ou na Netflix. A mesma coisa vale pra todo o resto, sério. Trabalhar com os melhores talentos que fazem jus ao Mundo das Trevas.

Publicações

1- Os planos de vender os livros em lojas físicas ainda são válidos, tanto para o MdT quanto para o CofD ?

ME. Atualmente estamos trabalhando com a Onyx Path e o By Night Studios na produção de livros para RPGs de mesa. Nós não ditamos como ou quando esses livros são vendidos, isso é com os nossos licenciados, ainda que tenhamos algumas opiniões. Mais pra frente, adoraríamos ter uma distribuição mais ampla e você pode ver nossas primeiras tentativas disso enquanto criamos edições digitais de nosso catálogo antigo para vender na Amazon, por exemplo. Sempre que fizer sentido para nossos clientes assim como para nossos negócios, adoraríamos trabalhar com parceiros que tenham um gosto pela distribuição física.

2- A White Wolf tem algum plano para financiamento coletivo para seus jogos do MdT (analógicos e digitais)?

ME. Nós não temos nenhum plano ativo para eles, mas nossos licenciados podem. Notoriamente, tanto a Onyx Path quanto o By Night Studios são muito bons em fazer financiamento coletivo.

3- Há algum plano de se lançar conteúdo novo (original) para o MdT, por exemplo, uma nova linha de jogo (outro modelo sobrenatural maior ou um menor como os Carniçais)?

ME. Sim.

4- Na entrevista, você mencionou que gosta do suspense em torno de novas publicações. Isso significa que você pretende abandonar o processo de Desenvolvimento Aberto para os futuros livros do MdT?

ME. Desenvolvimento aberto é um método que a Onyx Path gosta de usar para seus relançamentos de produtos nostálgicos. É muito bom pra isso.

5- Há algum plano de utilizar os escritores da Onyx Path em projetos do MdT, já que muitos tem um longo currículo de contribuição para que o MdT continue firme e forte?

ME. Quando procuramos por escritores, apenas procuramos por uma qualidade estelar de inovação, design e escrita. Há escritores fantásticos que trabalharam em produtos da White Wolf no passado mas também queremos trabalhar como novos e talentosos escritores. Aquele que pensarmos ser o melhor para o produto e a história, no fim das contas.

CofD

6- De acordo com os esclarecimentos feitos à entrevista para a Imagonem, podemos esperar alguma medida para o CofD além de manter a Onyx Path escrevendo os livros? O modelo transmidia pode não ser o caminho para o CofD mas… não há nenhum outro plano para ele?

ME. A principal razão para separarmos as duas marcas de MdT foi para evitar confusão de marcas. Atualmente a Onyx Path tem total responsabilidade do CofD e instruções para mantê-lo como uma marca de RPG de mesa sandbox mas, hey, as coisas podem mudar no futuro.

7- A White Wolf pretende traduzir (ou vender os direitos de tradução) o CofD para outras línguas?

ME. Estamos abertos para licenciar para qualquer parceiro que queira fazer isso, sim.

Opinião

8- Como você enxerga a atual “cena” do RPG nos dias de hoje?

ME. Existe uma audiência completamente nova vindo para os RPGs de mesa. Adultos que nunca jogaram (ou não jogam há muito tempo) mas veem a experiência do RPG de mesa como empolgantes experiências sociais e mais genuinas que, por exemplo, os jogos de computador. Esses adultos não possuem ou são bem poucas as ideias pré-concebidas sobre o que um RPG de mesa deve ser mas parecem tender a jogos que pareçam “não-geek”. Eu acho que temos o cenário perfeito para eles, contanto que façamos a introdução de forma cuidadosa e sem soterrá-los com regras complexas e cenários enormes.

9- A White Wolf ou a Paradox (a que for responsável) pretende investir em campanhas de propaganda para ambas as linhas (MdT e CofD)?

ME. A White Wolf é a dona das marcas, então nós já temos alguns esforços de propaganda, como patrocinar a Grand Masquerade em Nova Orleans, e outras coisas. E, naturalmente, nossos parceiros licenciados fazem propaganda de seus produtos quando lançados. Mas, se você se refere especificamente aos livros, nós estamos trabalhando em estender a disponibilidade e facilidade de uso deles.

10- Vocês estão tirando alguma lição ou elementos do CofD e usando isso em benefício do MdT?

ME. Pessoalmente, eu adoro muito do CofD mas tenho muito cuidado em não misturar os cenários mais do que eles já estão misturados. Dito isto, Damnation City (para Réquiem) é um dos melhores suplementos de Vampiro: a Máscara já escrito. Mas, como aponto de forma cautelosa, o CofD foi um reboot de princípios comparável à encarnação do Syfy de Battlestar Galactica. O MdT é uma continuação direta da metaplot do MdT Clássico, ambientado após mais de uma década de silêncio e mudança radical. Tipo o relançamento de Doctor Who, se você quiser uma comparação.

11- Como você vê o Brasil na cena de jogos digitais e analógicos e como ele se encontra nos planos atuais da White Wolf?

ME.O Brasil sempre aparece nos nossos encontros e planos 🙂 A América do Sul inteira é um mercado muito interessante onde precisamos melhorar no futuro, e todos os e-mails que recebemos dos fãs e de parceiros de negócio em potencial dessa região realmente afirmam esse nosso objetivo.

12- Podemos esperar MMOs ou apenas jogos single-player/multiplayer-locais?

ME.Nós trabalhamos em todos os gêneros apropriados. Estamos preocupados principalmente em achar parceiros que alcancem nossos padrões excepcionalmente altos de qualidade. O que aprovamos simplesmente depende das propostas que recebemos e quão bem essas ideias correspondem aos nossos planos maiores. As vezes pedimos por propostas específicas mas também recebemos várias propostas que são ótimas.

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Poster do finado MMO de Mundo das Trevas que estava sendo produzido pela CCP

Jogos Digitais

13- Como a White Wolf vê essa moda não-tão-recente na qual muitos jogos de Multiplayer Online são gratuitos mas oferecem customização/avanço mais rápido através de microtransações? Podemos esperar microtransações nos jogos que estão por vir?

ME. A gratuidade é um dos principais motivadores econômicos no mercado de jogos de computador hoje em dia, com esses jogos fazendo tanto quanto ou mais dinheiro que os jogos AAA tradicionais. Novamente, isso depende da qualidade e do design dos referidos jogos baseados em microtransações. Eu não vejo nenhuma diferença real na qualidade entre esses dois modelos de venda.

14- Os fãs vão ter uma oportunidade de contribuir na criação dos jogos digitais que estão por vir?

ME.  Nós estamos criando, consciente e metodicamente, um mundo sombrio no qual nossos jogadores participam. Nós acreditamos em abrir os jogos digitais para conteúdo gerado pelos usuários, mods, narração ativa e, talvez, até mesmo permitir ao jogador escolhas que afetem diretamente a metaplot e quais personagens vivem ou morrem!

***

E aí, o que acharam? Animados com as respostas? Queremos saber sua opinião! Comentem aqui no post e na nossa página do Facebook, queremos ouvir a opinião de vocês!

10 Replies to “Entrevista Exclusiva: Martin Ericsson (White Wolf) para o Cronistas das Trevas!”

  1. Eu achei o cara meio bosta. Essa repetição de “padrões astronômicos de qualidade” não me convenceu… A iniciativa da entrevista foi fantástica, ainda que ele tenha deixado claro o distanciamento do MDT para o CoD. Fiquei preocupado ao ler nas entrelinhas do que ele disse…

    1. Não se preocupe, o CofD claramente (ou seria… trevosamente 8D ?) continuará nas excelentes mãos da Onyx Path e isso por si só já é tudo que poderíamos querer para nosso querido RPG. Quanto aos padrões de qualidade, só após a White Wolf publicar seu Máscara 4ª edição ou seja lá o que planejem lançar é que poderemos julgar. Por enquanto, eu, Dante, super acredito na capacidade deles =)

  2. Falou muito e não revelou nada, ficou só fantasiando e não determinou nada sobre coisa nenhuma.
    O que realmente interessa aos consumidores do cenário e apenas uma coisa: Vampire the Masquerade 4° edition.

    Ele foi evasivo o tempo todo e pode se perceber que se existe um planejamento real sobre o Mundo das Trevas ele ainda está confuso e nublado.

    Se fossem realmente interessados em consolidar o Mundo das Trevas eles deviam unificar o que existe de melhor na Máscara e no Requiem, rebootar o cenário, aprimorar as regras e unificar seus consumidores, e depois planejar o que fazer em outras mídias, agora o cara ficar imaginando uma série nível Netflix e HBO ou games com esse nível de “profundidade e grandiosidade” acho bem delirante e até ilusório.

    Sou consumidor da marca, mas vejo apenas um cenário de jogo fragmentado e confuso, demorou para esses caras restabelecer o Vampire, sua cronologia, metaplot, e simplificar suas regras de maneira mais coesa.

    Se fizessem isso com certeza os materias seguintes (Werewolf, Mage etc) poderiam ser restabelecidos também.

    1. Olha, as evasivas são para manter o sigilo de planos que com certeza ainda estão em seus estágios iniciais. Isso é algo comum com muitas empresas, manter sigilo até a última hora, e este é o modelo que o próprio Martin prefere, como vemos tanto nessa entrevista quanto na entrevista pra Imagonem.

      Uma série pra Netflix ou HBO não me parece tão absurdo, visto que eles já estão começando a montar um documentário (conforme noticiamos essa semana).

      De fato, o cenário está fragmentado e confuso pois a linha editorial da década de 90-começo de 2000 era outra. Felizmente, a nova White Wolf parece querer mudar esse quadro, mas como toda mudança, isso certamente levará tempo e exigirá paciência de todas as partes.

  3. Não questionou sobre o péssimo serviço que a Devir fez no passado e continua fazendo hoje? e o por que de continuar com a parceria com quem não vende seus produtos e dá suporte a seus consumidores?

    1. Marcos, claramente a Devir não é mais relevante e, embora não haja confirmação oficial, dado o sigilo desse tipo de informação, trabalhamos com a ideia de que a Devir não possui mais os direitos de tradução.

      De qualquer forma, enviaremos sua preocupação ao Tzimisce =)

      Enquanto isso, nos ajude aqui com uma pesquisa que estamos realizando: http://www.rederpg.com.br/…/pesquisa-sobre-live-action…/

  4. Como os comentários anteriores, achei meio frustrantes as evasivas. Comparado à produção aberta dos cenários do CofD, soa como paranoia extrema da White Wolf.

    Como o grande trunfo é o metaplot do MdT, acredito que deveriam começar investindo pesado em mídias narrativas mais “baratas”, como novos romances e quadrinhos antes de se voltarem para seriados. Não que não poderiam mirar direto essa mídia, mas acho que criar o hype em mídias menos dispendiosas seria benéfico pra empresa. Pura especulação minha, claro. 🙂

  5. Ainda acredito que antes de buscar novos consumidores que hoje é bem difícil (exemplo são as empresas de consoles que disputam os mesmos) deveria publicar e resgatar os antigos milhares de jogadores, que com toda essa influencia trarão novos consumidores pro mercado (exemplo disso é pokemon go que foi um otima jogada da Nintendo pra resgatar os consumidores e fazer “a cabeça de novos consumidores”), manter na maioria das vezes é o inicio que precisamos, espero um otimo trabalho com Vampire: The Masquerade 4ed.
    Sinceramente Sinto Saudades da Ótima administração de Mark Rein Hagen e Andrew Greenberg! parabéns pela matéria e não ligue muito pela revolta dos colegas! o pessoal realmente esta triste com o que fizeram com o nosso jogo favorito! Abraços!

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