Francisco antes do despertar era um ex-funcionário público que abandonou trabalho, família e vida. Ele passou alguns anos nas ruas de Fortaleza entre bêbados, bares, prostitutas, jogos, crimes de pequeno porte, indecências, porto, amigos, copos e garrafas. Nunca se orgulhou de suas escolhas, porém pra ele foi insuportável ver sua filha tornar-se uma foto-cópia de sua esposa, casando-se com um paspalho medíocre.
Na manhã de seu aniversário, Quincas, apelido de bar, morreu ao retornar de um de seus respeitáveis porres. Conforme a pontada no coração lhe feriu, ele se viu lembrando dos mais diferentes tipos de atos estúpidos que cometemos diariamente contra nós e contra todos a nossa volta.
Caiu em sua cama, morto. Lá se sentiu molhado, levantou-se cercado de água até o tornozelo num local feito apenas de fumaças humanas e rocha. Algumas das sombras tentaram ludibriá-lo, algumas seduzi-lo e ainda mais algumas enganá-lo, mas quem é filho da puta não cai e conto furado. Se levantou e viu ao longe um estranho farol cinza chumbo, quando o alcançou Quincas despertou.
De volta em seu quarto numa cabeça de porco aos pedaços, ele percebeu estar cercado pela sua família de antes da rua. Aparentemente velavam seu corpo. Aquela era a oportunidade perfeita pra ele sumir de vez e nunca mais ser perturbado por essa gente perturbada.
Ele percebeu que o mesmo entendimento que o permitia se passar por morto também o permitiria chamar ajuda da noite. Em trinta minutos ele estava cercado de seus compatriotas de zona, que logo deram um jeito de convencer a família que não seria necessário o velar por toda a noite.
Mesmo apenas entre amigos, ele escolheu não revelar a seu estado de vivo. Se ele queria fugir de vez desse mundo, ele precisaria deixar para trás todos, sua filha Vanda, seus soldados e sua amada Manoela. Porém através de truques nos lugares certos conseguiu aproveitar seu último aniversário entre amigos e ao lado de Manoela. Apesar de insistências de sua filha por toda noite.
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