Eu decidi narrar uma mesa de Réquiem usando mais recursos oferecidos pelos títulos da linha. Eu também tenho ouvido alguns pedidos de ajuda pra criação de mesas em Chronicle of Darkness em geral. Sendo assim, eu decidi aproveitar a fome com a vontade de comer e dar algumas dicas pros narradores do próximo CofD day que ocorrerá nos dias 31 de outubro e 1 de novembro. Então, vamos por a mão na massa.
Nessa mesa eu decidi sentar pra ler o que o jogo de Réquiem oferece de suporte pra o narrador, ao invés de contar com a minha experiência de duas décadas em RPG. Essa é uma atitude que pode ser aplicada pra qualquer assunto e me permite reavaliar as minhas posições e expectativas sobre o jogo.
Primeiro passo: TRAMA
Primeiro eu decidi que tipo de história eu gostaria de contar em jogo. Escolhi algo simples: uma trama de assassinatos em série abalando as estruturas de poder social na região.
A questão da trama é eu ter como guia tentar adicionar uma cena ou elemento vinculado a trama toda sessão. De resto eu posso dar espaço pra quem joga ir atrás de interesses pessoais, cenas de alimentação, interação com as touchstones e afins. Eu também posso amarrar alguns desses interesses individuais de personagens a trama central, se eu quiser uma crônica mais focada.
Segundo passo: A escolha da Dança
O Chronicles of Darkness atualmente possui uma dúzia de jogos no sistema, além das diferentes opções de tipos de personagens dentro de cada linha. Em Demônio, você pode jogar como um demônio ou um filho de demônio. Mago tem os despertos, sonâmbulos e proximi. Sendo assim, qual desses jogos eu deveria usar para minha trama?
Como faz algum tempo que eu não narro, eu não queria nada tão trabalhoso quanto mago com seus mistérios fractais e nem um jogo que lide com mais de um plano de existência. O que me reduz a lista de opções para Demon: The Descent, Deviant: The Renegades, Vampiro: O Réquiem e Promethean: The Created. Desses, Vampiro é o jogo mais voltado para sociedades secretas que se envolvem em poder mundano. Mas aqui eu usei a minha experiência com o CofD em geral. Para quem não tem mais de uma década narrando CofD, eu recomendo ouvir nosso DarkCast, assistir nosso canal de Youtube e/ou entrar no nosso Discord. Todos esses Links úteis estão aqui no blog, eles encontram-se à direita da sua tela no PC.
Terceiro passo: O espírito da coisa
Jogos do CofD e, especificamente, o Réquiem, montam muito da sua ambientação e experiência de jogo no Humor da narrativa. O estado de espírito gerado pela crônica. Sendo assim é interessante que o narrador antes de montar a crônica se ponha nessa disposição.
Geralmente se usa uma trilha sonora que tenha a estética que você quer invocar com a sua crônica. Outra opção é assistir um filme que você sabe que tem a estética que você deseja. Livros são uma boa saída também. Devido a vida atarefada da maioria das pessoas, muitos pulam ou ignoram essa parte.
Como eu queria reavaliar as minhas posições sobre o jogo e sou um vagabundo abrigado, eu decidi ler um dos livros recomendados pelo livro de Réquiem segunda edição.

Already Dead de Charlie Huston: história de detetive noir e mais do que três sociedades de vampiros com poder político na cidade. Nele o vampirismo é tratado como uma doença e vício. O livro faz parte de uma série. Gostei muito do livro. Cheguei até o terceiro livro da série, mas não sei se vou continuar.
Eu não gosto com como o autor lida com determinados tipos de violência: algumas situações violentas parecem existir nos livros apenas para reforçar a estética do cenário. Esse tipo de coisa costuma cortar o meu tesão, mas os livros em si são muito bons, não muito longos e com diversos aspectos que podem seu usados para informar a sua trama de Réquiem. Recomendo. Nota: 3 de 5 pro meu gosto, e 5 de 5 pras minhas finalidades.
Quarto passo: Guia para a Noite
A segunda edição de Réquiem apresenta um livro guia para jogadores e narradores, o Guide to the Night. Quem está familiarizado com os guias de narradores e com o livro Mirrors da primeira edição já tem uma boa ideia do potencial do GttN. Pra quem é novato no jogo, o GttN não apenas traz dicas de narração, mas também desmonta e remonta o jogo inteiro de uma perspectiva de elementos de crônica. Esse exercício dá a leitores um entendimento maior de como cada elemento narrativo impacta a trama.
Guide to the Night capa
Eu escolhi moldar o meu cenário baseado num dos exemplos apresentados no livro: Rain Falls (Chuva Caindo). Uma cidade nos EUA durante uma década de 60-70 romantizada. Sexo, drogas, Jazz, vingança e ‘subindo na vida’ são os temas desse cenário em adição aos temas duais de Réquiem e Máscara, Antigo e Moderno, Religiosidade e Blasfêmia.
Propostas do Rain Falls:
- Acesso reduzido às necessidades básicas de vampiros. Coisas como capital, lacaio, refúgio, fontes de sangue e territórios de caça são escassos e só podem ser adquiridos se você tirá-los de outra pessoa.
- Clãs tem uma importância reduzida, já que o auxílio do seu clã costuma ser de mais fácil acesso. Afinal, o vampiro já pertence pertence a um clã e o clã tem um nome a zelar.
- Coteries e Coalizões são mais importantes no cenário.
- Conflito entre personagens jogadores por elementos de necessidade
O GttN também me dá uma luz sobre recursos para garantir o conforto de quem participa da mesa. Isso é real pra quem joga e pra quem narra, pois eu não quero que alguém saia da minha mesa da mesma forma que eu encerrei a série Already dead, no meio devido a como determinados temas foram abordados. Existe uma diferença fundamental entre traumatizar violentamente uma personagem numa história e incomodar a plateia ou quem criou a história contigo sem consentimento. Em particular porque no caso de RPG, quem narra depende de quem joga pra contar e concluir a história. É uma relação de troca onde não existe barreira entre autoria e consumo. Não é o caso de uma escritora em que as personagens não tem como ir embora da trama, não importar como a escritora trata a história.
Quinto passo: Leitura complementar
As propostas do Rain Falls e Already Dead trazem elementos que são abordados em outros livros do Chronicle of Darkness. Aqui entra a minha familiaridade com o jogo:
- Eu peguei a proposta dos teus aliados, mentor, lacaio e contatos poderem te trair do Dark Eras 1, Bowery Dogs, anos 70 para Lobisomem.
- Demon: The Descent tem uma proposta para solucionar o clichê clássico de filmes de roubo, onde os personagens jogadores já estavam previamente preparados para a situação supostamente inesperada no meio do roubo.
- Deviant: The Renegades apresenta uma mecânica para perda e ganho de pessoas vinculadas ao personagem, touchstones, que eu posso usar para mecanizar trocas e roubos.
- The Contagion Chronicle tem uma mecânica que promove uma cooperação entre personagens jogadores e possíveis traições dramáticas.
- O próprio Guide to the Night apresenta alguns estados emocionais que aumentam a presença dos instintos predatórios vampíricos em situações sociais.
É pra esse tipo de coisa que serve o servidor do Chronicle of Darkness Br. Pessoas com mais conhecimento do cenário poderem dar indicações sobre propostas de jogo.
Sexto passo: E eu dancei
Agora eu tenho que juntar tudo isso aí acima e adicionar alguns elementos meus. Agora é quando eu revelo que essa é apenas a primeira parte do artigo. Não temam, o próximo sai logo.